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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Poucos sabem o que desejam de fato



Hoje, lendo e escrevendo o texto a seguir, me veio a constatação de que no último ano, este blog só foi atualizado em janeiro, o mês das férias escolares, o mês das minhas férias. 
As férias me proporcionam tempo para dedicar a algumas atividade que gosto, mas que a rotina me rouba. Quem escreve precisa de tempo livre, ócio produtivo já dizia Cioran. 

Vamos ao tema! 

Traçar planos, metas, objetivos, é de praxe para todas as pessoas. Cada um a seu modo, claro. Alguns fazem um mapa mental do que desejam. Outros (acredite!), fazem gráficos com as variáveis "metas/anos". Independente do modo como fazem, sonhar é necessário, é quase que uma obrigação, é o combustível para a vida. Porém, o que poucas pessoas fazem é questionar-se: o que estou desejando é um desejo meu ou de outrem? Foi algo incutido em minha mente por sabe lá quem? Qual o grau de genuinidade do meu desejo? É talvez uma fuga do desejo real? A questão é: poucos sabem o que desejam de fato. Poucos conhecem sua mente ao ponto de separar o que é seu do que é do outro, do que é social. Nos afastamos dos nossos mais sinceros desejos pelo simples fato de sermos seres que possuem medo da felicidade. Ser feliz amedronta, afinal vivemos rodeados do infeliz, das manchetes de jornal que declaram, aos poucos, o fim da raça humana. Nos acostumamos com isso. Caminhar em direção ao oposto é estar fora dos padrões da "normalidade". Viramos, então, normóticos. Assim, poucos sabem identificar se o que desejam é genuinamente honesto, é fruto das marcas da vida. Não importa a quantidade de dias, meses, anos, sendo fruto das marcas da vida, é honesto, sendo honesto será alcançado, independente de um planejamento prévio. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A redação do relógio

     Lembro-me como hoje de uma conversa que tive com meu professor de Redação, Osvaldo. Na ocasião era churrasco em comemoração ao término do ensino médio e eu, por motivos particulares, perguntava insistentemente a hora. De tanto perguntar, e consciente de que estava sendo irritante, disse: - Irei escrever uma redação sobre o relógio! Osvaldo, com sua paciência, respondeu: - É melhor escrever sobre o tempo...

       Passaram-se quase 9 anos e nesta última semana me veio a necessidade de escrever sobre o tempo. A necessidade surgiu de uma conversa com um amigo, onde eu dizia para que ele tivesse paciência, as coisas têm seu tempo. 

       No mesmo instante em que falei, fiquei reticente com minhas palavras. Esta frase, de tão clichê, não é bem interpretada. Talvez, quem a disse pela primeira vez não tivesse noção do equívoco que causaria. A frase "cada coisa em seu tempo", parece dizer que as coisas têm um tempo próprio para acontecer. Porém, quem dá tempo às coisas, senão nós mesmos? 

       Esse tempo refere-se à pessoa que está ouvindo a frase. As coisas tem o tempo dela, da pessoa. Ou seja, nossos projetos, sonhos, planos, têm o nosso tempo, o tempo que conseguimos persegui-los, o tempo de nossa liberdade. Falar assim parece esbarrar no idealismo, mas essa ideia está longe disso.  Em nossa existência, as questões sócio políticas são consideradas, mas este texto não pretende ser mais que uma memória e uma reflexão sobre nossa liberdade, deixo as discussões profundas para os filósofos...

domingo, 12 de janeiro de 2014

Reflexões de ano novo

As palavras que colocarei aqui são fruto de alguns processos e pensamentos....
Na verdade, evito sempre me posicionar em relação a alguma coisa por aqui, visto que nem sempre é bem interpretado.
Esperei o momento certo para escrever e postar...
Pode até parecer um tema batido, mas se ainda pensamos sobre ele, é porque ainda existe a necessidade de debate. Vejamos...

Em geral, com a chegada do novo ano, somos bombardeados por questionamentos sobre o que passou e o que conseguimos atingir, dentro das numerosas e homéricas metas traçadas. Tendo feita essa análise, geramos novas metas e necessidades (as vezes necessidades desnecessárias, como diria Wado).
Nesse interim, algumas questões são esquecidas, embora sejam elas as mais importantes:

De que adianta dinheiro, se as relações são compradas?
De que adianta viagens, se você continua o mesmo?
De que adianta sucesso profissional, se não consegue enxergar a importância das profissões que não são a sua?
De que adianta viver na diversidade, se não tem compromisso com a defesa da igualdade?

Ainda quem reflete constantemente sobre estas questões, em algum momento se vê permeado pela falta de resposta para elas, percebe que comporta-se de forma robótica para o alcance das metas.
Na verdade, o ser humano vem perdendo a capacidade de dar sentido às coisas, por isso tantas perguntas sem respostas. Por isso, a grande maioria, ao ler as perguntas acima identifica-se apenas com o que ela traz de meta. Alguns, infelizmente, ainda não conseguem compreender sua segunda parte e, menos ainda, ter a simplicidade de auto avaliar-se.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As cores das emoções

Estava lendo uma das inúmeras crônicas interessantes de Martha Medeiros quando apareceu no texto a expressão "ser capturado". Inevitavelmente, embora o texto fizesse referência a outro tipo de captura, pensei que ao longo dos anos somos capturados por nossas próprias emoções.

Um turbilhão de emoções. Emoções brancas, vermelhas, laranja, pretas. Emoções rasas, profundas, amargas. As vermelhas e laranja são as melhores, intensas e devem ser cultivadas. E as outras, o que fazer delas? Transformá-las em canção, em texto, arte, quem sabe, para que assim, deixem de ser brancas e pretas e passem a ser vermelhas e laranja.

Lembro agora com saudade da última vez que deixei-me capturar pela emoção (dessas vermelhas e laranja) e, tenho dito, a vida passa a ter mais sentido, é mais festiva e a simples mudança de rotina transforma-se em aventura radical.

Calmaria eu recomendo para os que são espectadores da própria vida, para os que não querem ser capturados pelas próprias emoções, pelos mais íntimos desejos. Amargura, para os que acreditam que o mundo gira ao redor do próprio umbigo.

Amor, tesão, paixão, para os que, assim como eu, esgotam as possibilidades!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Desestruturando as estruturas

Quando comecei a rascunhar o texto de hoje, percebi que estava iniciando-o da mesma maneira que o texto anterior, a partir de minha descrença em padrões comportamentais vigentes. Bem, mas este não é um assunto para hoje, depois quem sabe.
Comecemos: Eu sou muito desconfiada com livros de auto ajuda, embora algumas pessoas digam que eles realmente ajudam. Mas, um dia desses, folheando um deles, encontrei um conceito que ficou ecoando em minha mente por vários dias até que consegui sentar e explorá-lo mais.
Segundo o psiquiatra Roberto Shinyashiki os seres humanos necessitam de estruturas, estas são fontes de referências e são tão importantes que quando se alteram cria-se um novo jeito de organizar uma nova estrutura que possa nos dar referências concretas de vida. Talvez esse seja um dos grandes dilemas e motivo de crise exienciais do humano - viver em busca de alcançar as tão sonhadas referências. E se nao alcançadas, muda-se as referências ou elaboram outras. E por mais um tempo mantem-se estagnados nas novas referências que já tornaram-se velhas.
A falta de flexibilidade caracteriza o comportamento de muitos de nós, causando angústia, impossibilidade de criação, medo e desespero.
Quebrar esse padrão não parece ser fácil, mas talvez a consciência de que ele existe ajude-nos a encará-lo mais acertivamente.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Afetividade Virtual


Eu sempre fui (e ainda sou) muito descrente quando à seriedade e ao comprometimento das pessoas envolvidas em relacionamentos virtuais. Quando falo de relacionamentos virtuais nao estou me referindo apenas aos namoros e romances mantidos pela web, mas à todas as formas de sociabilidade que existem nesse novo espaço contemporâneo.

Concordo com Bauman quando este afirma que diferentemente dos relacionamentos reais, é fácil entrar e sair dos relacionamentos virtuais; em comparação com a coisa autêntica, lenta, pesada e confusa que muitas vezes nos são apresentados e experienciados, estes parecem ser mais inteligentes e leves, fáceis de manusear, compreender e usar, sempre pode apertar a tecla de deletar!

Para mim, os motivos dessa substituição já estão mais que esclarecidos e respondidos pela simples frase acima. O que tem me chamado atenção mesmo é a influência da virtualidade na vida das pessoas. Escuto diariamente relatos que enfatizam coisas do tipo "ahhh, nos falamos ontem a noite pelo msn e a briga foi feia", "não quero cancelar meu orkut, tenho dó de perder os depoimentos que recebi", "minha mãe é viciada em colheita feliz e por isso quase nao temos tempo de conversar quando ela chega em casa" e por aí vai...quanta corporalidade sendo substituída por sinais e signos, quanto olho no olho sendo trocado por um lcd, quanta afetividade esquecida....

Vivemos em uma época que, como diz Gaiarsa, a necessidade de envolvimento é gritante, se não estamos ligados nada acontece entre nós. Se este envolvimento é deixado de lado e torna-se enfatizado o envolvimento virtual, o que acontece? Essa resposta eu não tenho, não adianta sugerir uma consequência agora, é esperar e cantar com Belchior... "e no ecritório em que trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico diminui o meu amor..."

sábado, 24 de abril de 2010

Mais Solidão, Menos Prozac


Estava eu sexta feira a noite lendo "Ensaios sobre o amor e a solidão" quando tive a sensação de que tudo que o autor Flávio Gikovate disse gostaria eu de ter dito. Na verdade eu disse, mas não com a clareza que ele colocou. O tema do amor é recorrente, para mim, porque, ao meu ver, está intimamente ligado à liberdade. Muito embora, se me for pedido para definir liberdade não saberei fazê-lo. Liberdade e amor são realidades (ou criações humanas, nem sei) que por desequilibrarem-se quando juntas, estão causando o fenômeno solidão. E se você pensou que isso é negativo, engana-se! Acontece que cada vez mais as pessoas tem percebido o quanto é nocivo certos amores (a grande maioria) pela relação de dependência que causam e aí preferem estar sozinhos. Se é para estar acompanhado em um movimento simbiótico, é preferível o autismo como estilo de vida. Percebem que, na maioria das vezes, o que as uniu a seus pares foi o sentimento de inferioridade ainda mascarado, eventos fragilizadores que deixam o cupido fazer a festa. Ora, se o fenômeno amoroso é causador da destruição da pouca liberdade psíquica que nos resta vivendo nessa sociedade, para que continuar com ele? Nao seria mais interessante construir outras formas de relacionamento onde primeiramente fossem fortalecidos os laços individuais consigo mesmo? Diferente de Caio Fernando Abreu ao escrever "estou me transformando em um ser humano meio viciado em solidão. Não sei mais falar, abraçar, dizer coisas simples como "eu gosto de você".", este ser humano que agora emerge estaria mais apto para o amor, uma vez que primeiramente respeitou a construção tão árdua de sua individualidade.